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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Desaparecer.

Num instante apenas me vi desaparecer em frente ao espelho, não gritei, não chorei, nem me desesperei afinal de contas não era nenhum mistério que mais dia menos dia isso iria acontecer. Apenas me sentei e fiquei olhando minha imagem se desfragmentar lentamente enquanto minha boca formava um sorriso cordial e tímido com um tom moderadamente cômico e extremamente sarcástico, que logo virou uma gargalhada.
Gargalhada sim, com pequenas pitadas de desespero e alegria que dançavam avulsamente a meu redor de forma com que eu não conseguisse distinguir qual era qual.
Olhei pra baixo e logo em frente às minhas pernas cruzadas no chão achei um emaranhado de lembranças que logo em seguida comecei a desembaraçar fio por fio.
''Nunca pensei que desfazer nós de lembranças fosse tão difícil''
Percebi que os grãos de desespero e alegria palpitavam desse emaranhado como pipocas pulando de uma panela quente, percebi também - logo no inicio - que seria em vão lutar contra esses fragmentos saltitantes que teimavam em me rodear, pois eles não eram como mosquitos que se assustam com proximidade e se afastavam para voltar logo depois. Eram constantes e extremamente presentes, tão presentes ao ponto de me causarem certas náuseas ao ficar observando aquela apresentação de danças e pulos que acontecia diante de mim, talvez tenha sido exatamente por isso que eu não tenha percebido que aquelas mariposas insólidas e incolores começaram a me envolver lentamente em um invólucro invisível.
Sim, ao desaparecer passei a morar em um casulo - invisível - de desespero e alegria.
Uma crisálida ainda sem cor, mais pendente pro dourado.
No chão do aposento ficou o emaranhado quase desembaraçado das minhas lembranças, meu reflexo já sumiu e o invólucro parece me fazer flutuar num mar de brisas. O tempo não é linear aqui dentro, posso estar aqui há dias ou há décadas, minha voz foi silenciada - já que ninguém pode ouvir quem só consegue falar consigo mesmo - e tudo que posso fazer até o devido momento é tentar descobrir que cor vou adquirir e ficar soprando estrelas nas paredes do casulo que agora possui um cheiro semelhante á constelações. Gosto deste cheiro.
Esperar o fim da crisálida não é difícil quando se mora em uma pequena galáxia fechada, nem me tormenta mais pensar que minhas lembranças não foram devidamente desembaraçadas.
Sair com asas é o que importa agora, meu desaparecimento coexiste com minha metamorfose e tudo fica mais brando quando se aceita sua própria prisão.
Por bem ou mal, quando você desaparece você enxerga estrelas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Indiscutivel.

Um ponto pela audácia e nada mais.(O resto não importa)
Vire-se e volte pra sombra, a luz machuca os olhos.
Escarre lisergia na garganta seca destes cegos.
Use sua casca para se proteger, o que tem por dentro não interessa a quase ninguém.
Corte os finos fios de cabelo que costuraram em sua boca.
Respire o som devagar, para que cada nota musical entre e encha seus pulmões.
Sinta a dor de um par de asas crescendo em suas costas.
Seja livre e prisioneiro de sua própria liberdade.
Sussurre velhas canções e faça estrelas surgirem.

Agora apague a ultima vela acesa da casa e feche a porta quando sair, mas deixe sutis rastros de loucura para que eu possa te seguir...



''Você cresceu em mim como um câncer.''

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sonilóquio de um desajustado.

Eu sou tudo aquilo que desequilibra, sou o pior tipo de estirpe terrestre existente, eu sou o que todos anseiam pela partida e temem pela chegada, eu ceifo cada grão de vitalidade e sugo a meu vil e vão prazer pequenas essências de felicidade que pairam pelo ar. Faz parte de mim desejar o indesejável e comer alegria.Preciso, sinto e necessito de atenção, me alimento da sua paciência e nunca me dou por satisfeito.Vomito palavras cruéis e desentendimentos, farejo você até embaixo do mais úmido e fétido canto de agonia. Te observo como uma águia e te persigo até o fim do túnel, não vivo sem calor humano. Sou o seu pior pesadelo.
Se persisto em te perseguir por labirintos floridos, desistas de fugir. Vou atrás de você não importa o quão me jogues para longe, sou como um bumerangue, uma reação que não precisa de ação, sou a mais abominável das criaturas e tenho um amargo orgulho quanto a isso.
Mereço que cada lamento meu seja usado como uma lâmina afiada sedenta por um corte fino e silencioso que sangra a garganta amaldiçoada lacera a jugular e banha minha boca em sangue, calando - me.
Se livrar de mim é distante como o próprio céu e a tormenta de minha existência engolirá você mais rápido que o amanhecer, todo cuidado é pouco pra quem foge.
Todo e qualquer desespero me completa.